Digo-te apenas: Vota. Há palavras que parecem sólidas,
ao contrário de outras que se desfazem nos dedos.
Por exemplo: Esquerda. Ou ainda: Direita. Os votos podemos
escolhê-los, metemo-los dentro de uma urna como
se fosse um sonho ou um caixão. Mas não escondê-los. Eles
ficam no ar, invisíveis, como se não precisassem
dos sons com que votamos.
Agora, o efeito dos votos. A sua rotação
na cabeça, e pelas artérias, até ao centro:
a Assembleia da República. Outras palavras com que se diz:
Democracia. E, com isto, fixadas ficam as eleições pelo número maior: o nº de deputados;
de resto também há geringonças eleitorais que escondem o contrário do que querem dizer,
e só os conhece quem ama e vive, quando o poder da política não leva os partidos
por caminhos diferentes, obrigando-os assim a encontrarem-se.
Voto CDU. Também podia dizer: o voto com que te amo, irmão,
ou a vontade de dar um pontapé no cu a quem me explora e vive à custa do meu trabalho.
A partir de um voto tudo se pode fazer, só num voto, quando o que aí está é apenas um voto.
sendo que ele conduz-me a mim mesmo, isto é, apenas faz-me viver por dentro dele,
porém acontece que, esse voto, acaba misturado em mentiras e obscuras encenações.
Por exemplo: Presidente, Costa e Tancos; Bloco, Robles e Apartamentos à Venda;
entre Queques, Salgados e Croquetes; Almoços e Jantares entre os Donos de tudo isto;
e então, até o Amor, a Política, e mesmo a Vida, que também é uma palavra,
se confunde com a cruz do meu voto e dessa imensa e eterna cruz, que todos nós
temos que carregar todos os dias, quando servimos alguém, enquanto este de nós se serve.
Álvaro Couto