Não tenho esperança de ver a foto de Manuel Louzã Henriques, o velho leão da Liberdade, a ocupar toda a capa da revista do Expresso, a mesma que dá um contrastante destaque a uma extensa entrevista com José Miguel Júdice.

Manuel Louzã Henriques (1933-2019)
Após épocas de libertação, há, nas sociedades saídas de regimes ditatoriais ou dos sacrifícios das guerras, aquilo que se pode designar por «injustiça histórica» na descrição do passado, numa avaliação emocional que relega para segundo plano a frieza dos interesses e novas relações de poder, que recriam enviesamentos construindo um mundo virado ao contrário.
Vem isso a propósito das figuras que em cada época «oficialmente» se homenageiam ou destacam, e do significado político e cultural que esse facto tantas vezes reflecte, passando, numa mensagem de aparente normalidade, as mais extremas manifestações de intolerância e facciosismo.
Talvez o tema deste texto tenha começado por ser uma expressão da vontade de falar do desaparecimento de mais um pilar da cultura humanista do nosso país, símbolo de ouro dos valores que devem reger o mundo mais justo que todos dizem querer construir: Manuel Louzã Henriques.
A notícia do seu falecimento surgiu em alguns órgãos de comunicação social, repercutindo-se também nas redes sociais sem, no entanto, ter tido a devida relevância alargada e oficial que o próprio – com o «obstinado receio de ser vedetizado ou de construir a própria estátua», na escrita de Manuela Cruzeiro e Teresa Carreiro, coordenadoras-autoras do livro Manuel Louzã Henriques – Algures com meu(s) imão(s) – seguramente não desejaria.