O filme “A calúnia”, de Sydney Pollack, estreado em 1981 com dois grandes atores – Paul Newman e Sally Field – aborda a história de uma jornalista manipulada que conta uma história falsa sobre um homem que é inocente – e que, deste modo, fica com o seu nome manchado para sempre.
Foi deste filme que me lembrei esta semana a propósito de uma decisão da ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social. Mas já lá iremos.
Teve grande impacto no país, no início do ano, uma notícia feita pela “jornalista de investigação” Ana Leal, da TVI, a propósito de um alegado favorecimento de um genro de Jerónimo de Sousa pela Câmara comunista de Loures presidida pelo ex-líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares. Em termos práticos, e a acreditar no que a reportagem transmitia, as atividades mafiosas dos comunistas eram evidentes: o genro de Jerónimo, um rapaz pouco qualificado e sem currículo, tinha ganho, por ajuste direto, um concurso da Câmara de Loures que lhe pagava dezenas de milhares de euros por quase nada fazer – para além de substituir umas lâmpadas. Pelo que a conclusão era clara: Jerónimo de Sousa e os comunistas armam-se em honestos, mas, na verdade, são como os outros e, se puderem, metem a mão na massa.
Foram dois meses em que o filão foi explorado até à exaustão, com mais de três horas de emissão em horário nobre e com direito a abertura de quatro edições do “Jornal das 8”! Situação que, naturalmente, causou mossa ao PCP. Porque se há coisa que é sagrada para os comunistas portugueses é a da honestidade no exercício dos cargos públicos. Uma postura ética que é reconhecida pela maioria dos portugueses, mesmo que não se revejam (ou sejam opositores!) das posições defendidas por este partido. Ficou, assim, a dúvida instalada: afinal são mesmo todos iguais? E repare-se, o alvo era, nem mais nem menos, o secretário-geral do PCP e um dos mais conhecidos presidentes de Câmara comunistas!