Ele acenava-me lá entre colmeias,
com as suas abelhas heroínas,
como as que cavam mel fertilizante e fresco
na casca dura dos favos
até que apertei com orgulho as suas mãos de terra.

Ele dizia-me: «olha,
irmão, como somos, aqui em «Meitriz»,
nas «covas do rio», às «portas do inferno».
E mostrou-me as suas oliveiras,
os campos de milho, as videiras,
o chão inclinado dos viveiros,
as bogas, as águias, os lobos,
e a solidão imensa.

Vi o trabalho de quem ali
depois se junta também:
«filhos», «netos», «amigos», «vizinhos»,
que deixam cansaço e gasto,
com todo o rasto das suas duras mãos,
na madeira da mesa de almoço.

Aí, escutei uma voz de mulher que subia
com o fumo estreito que saía
da panela lá no fundo da chaminé
como vinda de útero maternal.
E ela disse-me: «Onde fores,
fala da nossa vida simples,
feita de trabalho, suor e sangue.
Fala, irmão, dos teus irmãos
que vivem este amor que se come».

E é esta a história que venho lembrar agora.
Hoje, no dia em que a Cecília
ficou sem o seu Manuel Vinagre.

 

27.07.2019
Álvaro Couto