As Fake News (FN) estão na moda. É um bom tema para discutir e, principalmente, aprofundar. Mas, em si próprias, as notícias falsas estão longe de constituir o elemento mais importante para nos guiar no combate por uma informação verdadeiramente comprometida no aprofundamento da democracia em todas as suas vertentes. O conceito recentemente vulgarizado pela União Europeia de desinformação não se afigura suficientemente operacional para nos ajudar neste combate, que para alguns parece ser coisa nova, contra uma outra realidade: a manipulação da informação. Uma realidade indissociável de contextos económicos, políticos, sociais e ideológicos que não podem ser ignorados, sob pena de o combate ser apenas de faz de conta.
Neste século e na sociedade capitalista em que nos inserimos, falar do panorama mediático, e particularmente das FN, leva-nos a ter como referência os Estados Unidos. País onde não são apenas, só por si, os grandes monopólios da informação que dominam os media e condicionam e influenciam a opinião pública nacional e também a dos países ocidentais e de grande parte do chamado Terceiro Mundo. E a situação não é de agora. Nos anos 80 do século passado funcionavam mais de duas dezenas de organismos estatais vocacionados para essa tarefa.
A USIA (Agência de Informação dos Estados Unidos), criada em 1953 pelo presidente Eisenhower, possuía então 200 delegações, mais ou menos discretas, em 126 países, editava 12 revistas em 22 línguas, dirigia a de rádio “Voz da Liberdade”, com mais de 800 horas de emissão em 39 línguas e empregava um total de 8 mil pessoas. Sob a responsabilidade da USIA produziam-se para o estrangeiro cerca de 1700 programas de televisão, dobrados em 52 idiomas e transmitidos e retransmitidos em 2 mil canais estrangeiros.
Diz-se, e com razão, que notícias falsas sempre as houve. Não é esse plano longo na História que nos interessa aqui. O que se poderá é situar nesse período, e graças à sistemática utilização das novas tecnologias então em desenvolvimento, que as fake news começaram a adquirir um impacto político e ideológico organizado e sistemático nunca antes alcançado.