“Em política não há coincidências, mesmo quando inicialmente o são rapidamente deixam de o ser”
Frase escutada (por uma frincha) numa reunião da Comissão Política
Entre os dias 3 e 10 de maio o país esteve mergulhado numa “crise política”, com a ameaça de demissão do Governo caso uma proposta trabalhada em comissão, de recuperar todo o tempo de serviço congelado dos professores em termos a negociar com o próximo governo, fosse aprovada pelo plenário da Assembleia da República.
Não é a matéria política que interessa aqui trazer, essa ficou clarificada na votação do dia 10. O PS não quer recuperar o tempo de serviço das carreiras especiais e o PSD e o CDS também não, querendo, contudo, parecer que sim – contar o tempo todo avocando (depois do “mitigar” mais um belo verbo para candidato a qualquer coisa usar) as regras orçamentais da União Europeia e a revisão das carreiras especiais como condição, nega, na prática, a sua contabilização. Opções políticas são opções políticas e discordando destas aceito-as no debate político.
O que não aceito é a campanha contra os professores, aberta com a declaração ao país do Primeiro-ministro, e que associou, decerto por coincidência, a chantagem do governo e do PS, o “troca-tintismo” de PSD e CDS, o silêncio do Presidente da República e profusas opiniões e comentários nas televisões, rádios, jornais e redes sociais.
Da tenebrosa semana uma ideia vingou – como pode uma “sociedade civil” como a nossa (cumpridora, trabalhadora, competente e culta) manter um bando de privilegiados, madraços, incompetentes e ignorantes como os professores portugueses? Não pode! É preciso pôr essa “comandita” (se bem me lembro, uma elegante qualificação utilizada por um antigo ministro da administração interna) na linha.
Entretanto, o dia-a-dia: em Esmoriz uma professora perto da idade de reforma, atirada pela doença para uma cadeira de rodas, é obrigada, pela Junta Médica, a trabalhar; escolas que propõem medidas disciplinares duras a alunos com comportamentos delinquentes são amoestadas pela administração por não saberem fazer integração na comunidade; financiamentos de cursos profissionais penalizam escolas quando as taxas de sucesso ficam abaixo de 85%, mesmo nos casos de alunos que completam 18 anos e vão trabalhar.
Com esta “crise política” foi dado um importante contributo no combate à indisciplina escolar e um tónico para a dignificação da função docente. Obrigado Dr. António Costa!
Arouca, 20 de Maio de 2019