Manifestação de Professores, Av. da Liberdade, Lisboa

Amanhã, 23 de Março, os professores vão descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa. Vão-se manifestar por um conjunto de reivindicações, muito especialmente para que a Assembleia da República resolva aquilo que o Governo não quis resolver – encontrar uma solução sustentável e faseada para recuperar o tempo de serviço que os professores trabalharam. Para que os mais velhos se possam aposentar em condições de vida dignas e para que os mais novos não terminem a carreira a meio com uma pensão bem mais baixa que o salário de entrada na profissão. Por certo, em ano eleitoral, nenhum partido ficará indiferente à iniciativa de amanhã.

O problema dos professores, tal como o dos enfermeiros e dos demais trabalhadores da administração pública, não encontra solução porque os sectores dominantes no PS, PSD e CDS não aceitam canalizar recursos para as Funções Sociais do Estado, seguindo à la carte as imposições da União Económica e Monetária. Em tempos de recessão “é preciso cortar porque vivemos acima das possibilidades”, em tempos de crescimento económico “temos de baixar o défice” e quando chegarmos ao défice zero será “pela necessidade de diminuir a dívida”. Finórios, postulam com ironia: que parte do não há dinheiro é que não perceberam!

Curiosamente, para acudir à banca já não faltam recursos, como é agora o caso do Novo Banco. Serenos, explicam: não se trata de pagar nada, é só um empréstimo. Uma bela rotundidade! O Estado empresta dinheiro à banca a baixo preço, banca esta que depois financia projectos do Estado a preço mais alto. Dizem: é a economia estúpido! O Estado – que vende dinheiro a juro baixo e compra dinheiro a juro alto – é, de facto, bastante estúpido. Mas os entendidos dizem que não, e nós aceitamos, ensombrados que estamos pelas lições de sapiência dos Senhores Professores de Finanças Públicas, que desde 1928 nos iluminam (hoje é o Ronaldo das Finanças).

É ternurento assistir, à direita do PS, a indignação pela não resolução do problema dos professores, pelo estado da Saúde, pelos motores que caem das automotoras, em Afife. À direita do PS estariam dispostos a bater o pé à União Europeia e a aumentar recursos para a Saúde, a Educação e o Investimento Público? Se tivéssemos PaF, em vez da actual solução política, sem reposição de direitos e rendimentos, com a economia a crescer apenas graças ao bom ambiente externo (sem o contributo do consumo interno, portanto a crescer menos) teríamos mais recursos para a Saúde, a Educação e o Investimento Público ou apenas cortes na despesa e o cortado canalizado para novas PPPs?

Agora, com a apreciação parlamentar da recuperação do tempo de serviço dos professores teremos um bom indicador. Será a solução da Madeira para a recuperação do tempo de serviço dos professores (não é o OE de 2019 que está em causa, mas sim 2020, 2021, 2022, 2023, 2024 e 2025) que à Direita do PS se assumirá ou teremos um “nós estamos ao lado dos professores, mas quem criou o problema que o resolva”? O habitual truque, com a palavra esconde-se o pensamento.

 

Arouca, 22 de Março de 2019