“Para viver o Homem necessita de certezas!”
Certeza escutada algures
Aqui há umas semanas, num jornal subversivo que tenho por hábito ler, prenhe de foices e martelos, fui convocado para a reedição da obra prima de Karl Polanyi (1886-1964) – A grande transformação, as origens políticas e económicas do nosso tempo.
Escrito em 1944, este estudo interdisciplinar da história do capitalismo do século XIX é uma análise singular à Economia de Mercado. É um bom elemento de contraponto às teses de Friedrich Hayek (1899-1992), hoje dominantes no mercado das ideias. Curiosamente, é, também, de 1944 “O Caminho da Servidão” de Hayek, a Magnum Opus do (neo)liberalismo do século XX.
Segundo Polanyi, na história da humanidade, as relações de mercado são parte das relações económicas e estas, por sua vez, parte das relações sociais, sendo que o mercado (o mercado puro e duro regulado apenas e só pelas leis da oferta e da procura, o mercado auto-regulado na tese do autor) nunca foi dominante em tempo algum anterior à Inglaterra de oitocentos.
Sucede que, à medida que o mercado auto-regulado se vai consolidando vai tomando conta de todas as relações económicas e, em consequência, de todas as relações sociais. Em vez de economia de mercado passamos a ter sociedade de mercado. Todas as relações sociais passam a relações de mercado, tudo é mercadoria, tudo se compra e vende, de acordo com as leis da oferta e da procura. Tudo, mesmo até aquilo que Polanyi chama de mercadorias fictícias – trabalho, terra e moeda –, elementos que em circunstância alguma deveriam estar sujeitos às leis de mercado.