
Trabalhadores fazem a sucção da espuma que cobre o Tejo, 1/18 – P. C./LUSA
A mercantilização da natureza e a tentativa de penalizar os comportamentos individuais, incidindo sobretudo nas camadas populares, tem sido a estratégia dos centros do capital a propósito de problemas ambientais. Esta estratégia tem como objectivos desresponsabilizar o modo de produção capitalista dos problemas ambientais e criar novas estratégias para a acumulação capitalista, aprofundando injustiças.
Os centros de decisão do capitalismo, partindo de problemas que o próprio sistema cria, tentam inverter o ónus da degradação ambiental. A criação de mecanismos sofisticados de acumulação centrados na resposta a problemas ambientais vem acompanhada de poderosas campanhas de condicionamento ideológico, o que torna muito importante a luta ideológica nesta área.
Na resposta a esta ofensiva é necessário demonstrar que é o modo de produção capitalista o responsável pela destruição da Natureza e, nunca esquecendo que a situação confirma a necessidade de um sistema que racionalize a utilização de meios e recursos, para que sejam colocados ao serviço da sociedade, é necessário apontar objectivos a curto e médio prazo.
Os recentes acontecimentos em França, a propósito das medidas ditas verdes do governo de Macron, trazem à evidência esta estratégia do capital. Tal como o PCP denunciou a propósito da dita fiscalidade verde do governo PSD/CDS, o uso do adjectivo «verde» destina-se a esconder uma «reafectação da tributação, carregando mais sobre as camadas mais empobrecidas», apontando a «taxação como solução praticamente para tudo», confunde «salvaguarda dos recursos naturais com a taxação. Sob esta lógica quem pode comprar bens ou serviços menos poluentes, paga menos taxa, quem não pode, paga mais», ou seja, procura «inverter o ónus das verdadeiras responsabilidades de classe na degradação ambiental e fazer reflectir os seus custos exclusivamente nas populações» (1).
O modo de produção capitalista causa falhas no processo de reprodução material (metabolismo) e de evolução conjunta do homem com a natureza. Acresce que a «colossal divisão internacional do trabalho só é sustentável por extensivos sistemas logísticos e poderosas frotas de transportes rodoviário, marítimo e aéreo» (2), que acentuam a falha metabólica na perturbação da «troca material entre o homem e terra, i.e. o retorno ao solo das componentes deste consumidas pelo homem» (3).
A separação entre o Homem e a Natureza é uma condição constitutiva do regime capitalista, desde logo pela concentração populacional em grandes centros e pela diferença que induz entre o campo e a cidade. As falhas do metabolismo entre Homem e Natureza introduzidas pelo capitalismo têm-se aprofundado com a divisão internacional do trabalho. Portanto, no modo de produção capitalista o operário é desapossado do objecto do seu trabalho, do processo produtivo, sendo alienado do trabalho é também alienado da Natureza.
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