Ministério das Finanças grego entregou ao Taiped uma extensa lista de monumentos nacionais para venda a privados. O Taiped (Fundo de Desenvolvimento do Património da República Helénica) é um fundo de privatizações grego criado por imposição da UE, BCE e FMI, depois dos primeiros resgates à economia do país, em 2015, já com o governo Syriza. Passou a ser supervisionado pelas autoridades europeias, que chegaram a propor que as privatizações na Grécia fossem coordenadas por um fundo sediado no Luxemburgo dirigido por Wolfgang Schäuble, o ministro das finanças alemão padrinho da ideia. Em 2016, o Syriza, liderado por Tsipras e o seu aliado Anel (Gregos Independentes), liberalizou o Taiped juntamente com outros fundos de investimento estatais.
No inventário, com mais de trezentas entradas, estão incluídos o palácio de Cnossos do mítico labirinto do Minotauro, em Creta, o túmulo do rei Filipe II da Macedónia, pai de Alexandre o Grande, no norte da Grécia, a Torre Branca de Salónica, antiga prisão e lugar de grande valor simbólico nos Balcãs, o lugar pré-histórico de Santorini, os lugares arqueológicos de Salamina e Elêusis, muitos dos museus de Arqueologia, os Museus Bizantinos de Salónica e de Véria, os fortes das cidades de Esparta e de Corinto e as fortificações da ilha de Corfu, classificado património mundial pela UNESCO, florestas integradas na rede Natura, os lugares históricos nas montanhas que cercam a Acrópole, a que se somam uma longa lista de outro património edificado. Tudo o que agora está à venda soma-se ao que já foi vendido no violento programa de privatizações imposto pelas entidades credoras da Grécia, UE, FMI, BCE na linha da frente, o eixo das exigências desde o primeiro programa de resgate. Ao desbarato já se venderam bancos, companhias de seguros, aeroportos, estradas, ilhas, portos como os de Pireu e Salónica.
Agora com um salto qualitativo, esta nova lista ainda não tem os monumentos da Acrópole de Atenas, que pelo caminho que está a ser traçado deverá integrar, provavelmente aos bocados, uma próxima listagem. Longe vão os tempos em que Melina Mercuri, ministra da Cultura, lutava para que os frisos do Pártenon e as esculturas desse monumento e do Erecteion, «retirados» por lord Elgin, embaixador inglês junto do sultão otomano que os vendeu ao Museu Britânico no século XIX, fossem devolvidos à Grécia. Uma batalha a que Tsipras é alheio. Deve estar mais interessado em concorrer com o lord inglês, licitando-os com o governo britânico para receber uns trocos. Isso enquanto deve estar já a imaginar os euros que poderá cobrar vendendo a retalho a Acrópole e o Pártenon para um privado qualquer instalar um centro comercial ou um parque de diversões, o Erecteion talvez cenário para sessões no-stop de striptease em memória do harém que o sultão otomano aí instalou durante a ocupação turca. A imaginação dos empreendedores é inesgotável e Tsipras é um bom parceiro que nada detém, depois de trair os gregos que votaram no Syriza e no referendo em que 61% dos gregos disseram Não às exigências da troika, um resultado histórico, proclamaria na altura Catarina Martins, quando as meninas do BE andavam excitadíssimas a fotografarem-se com os emergentes heróis helénicos.