O caminho para a agropecuária bovina ligada às explorações familiares, à conta da descarbonização, é a sua extinção, com o agravamento paulatino mas inexorável dos nossos défices em proteína animal.

raça arouquesa – “menina” e “castanha”
Às vezes ouvimos ou lemos e não queremos acreditar. A enormidade, o absurdo do discurso, do escrito é tal, que não é possível entender, perceber, aceitar. Ainda mais, vindo tais afirmações/declarações do Governo da República e pronunciadas como linhas de orientação política para o país. Assim aconteceu com as palavras do ministro do Ambiente a propósito da apresentação pública de um dito Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050), que tem por base a Resolução do Conselho de Ministros 93/2010, do último Governo PS/Sócrates.
O que nos veio dizer, em nome das «descarbonização», o Sr. Ministro? «(…) há aqui uma redução de facto no que respeita à produção pecuária (entre 25% e 50% menos). Tudo isto vem também no quadro de uma maior liberalização do comércio no mundo, onde a carne de vaca vai chegar a Portugal a preços mais competitivos em muitos casos em relação àquela que conseguimos produzir» (Público, 4 de Dezembro de 2018). E, segundo se lê no Roteiro, tal redução diz respeito a vacas e logo à importação de mais leite e carne bovina. É difícil escolher por onde começar a malhar, para usar sugestiva e conhecida expressão verbal do Sr. ministro dos Negócios Estrangeiros.
O facto de algumas dessas orientações do Roteiro (RNC2050), com tão significativos impactes na vida económica e social do país, resultarem de «compromissos internacionais» assumidos por diversos governos, justifica que passem à margem do escrutínio aprofundado e decisão da Assembleia da República? A acontecer, será completamente inaceitável, ao arrepio da estranha opinião do ministro do Ambiente (Público, 5 de Dezembro de 2018).
Por outro lado, que pantominice é esta de estar a indiciar e mesmo fixar objectivos e metas a 30 anos de distância? É para precipitar negócios e sobretudo negociatas, em nome de um futuro completamente imprevisível na selva da anarquia da produção capitalista e, sobretudo, da profunda crise que abala o sistema e dos terramotos económico-financeiros, sociais e políticos que abalam os continentes geopolíticos? Ou converteram-se, mais vale tarde do que nunca, ao planeamento da economia?