A passagem dos cem anos sobre o armistício da guerra de 1914/18 foi oficialmente celebrada como uma efeméride de paz e em torno dela abundaram, sobretudo em França mas também em Portugal, as mais hipócritas considerações sobre o apego à paz e à fraternidade universal. Quando o mestre de cerimónias do principal espectáculo comemorativo, Macron, que tem a França envolvida no reforço da NATO, na corrida aos armamentos na União Europeia e em múltiplas operações militares no Médio Oriente e em África e é paladino da criação de um «Exército Europeu» (o que Trump vê como desafio à hegemonia dos EUA no campo imperialista) que crédito pode ter a sua afirmação «vamos prometer dar prioridade à paz e pô-la acima de tudo»?
Sim, a luta pela paz é um imperativo da hora presente mas só será consequente se a estratégia agressiva dos EUA, NATO, UE e Japão for frontalmente combatida e se a escalada militarista em que as grandes potências capitalistas estão empenhadas, coligadas na luta contra os trabalhadores e contra os povos mas rivalizando entre si, for claramente denunciada. Rivalidades que o aprofundamento da crise estrutural do sistema capitalista está a agudizar e que trazem no bojo conflitos de trágicas proporções como aconteceu precisamente com a guerra de 1914/18. Fala-se de paz mas prepara-se a guerra, uma guerra que na era nuclear poderia significar o holocausto da Humanidade.