
D. Quixote com alucinações
O debate público, político no seu sentido mais lato, tem vindo, pouco a pouco, a transformar-se em conversa de café. A comunicação faroleira, o registo agressivo, o recurso ao insulto, à sentença instantânea, a crença em soluções simples para problemas complexos ganharam adeptos. A má educação e a boçalidade tomaram conta do espaço público.
Ao mesmo tempo que se reclama da política e do político carroceiro que disputa e vai chegando às Chancelarias, o indivíduo e a portentosa sociedade civil dão exemplo … fazendo o mesmo no espaço público (nas antenas abertas, no comentário ao noticiado, nas redes sociais, na blogosfera). A santa trindade da conversa da treta (fanfarronice, superficialidade e vulgaridade) instalou-se.
A fanfarronice lembra o camiliano tenente-coronel Cerveira Lobo, cuja coragem subia à medida que esvaziava a garrafa de genebra. Quando a coragem atingia o climax, sempre que chegava ao fundo da garrafa, saía a cavalo, bramindo espada, campos fora, qual Quixote, matando “Malhados” imaginários, a “Brigada Vermelha” desses tempos miguelistas.
A superficialidade é marca deste tempo. A rapidez, as tecnologias da informação e comunicação, a multiplicidade de estímulos visuais dominam o quotidiano. Comportam potencialidades mas, também, perigos. Não é possível em matérias complexas, e as relações sociais são complexas, fazer análises rápidas em frase bombástica. Não há inovação que permita meter num MEME “A República” de Platão.