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«Sou contrário às tendências de Bolsonaro, mas tenho que torcer pelo Brasil. Tenho que torcer para que ele acerte e não para que erre». Esta declaração de Fernando Henrique Cardoso (FHC) em entrevista à RTP3, na semana passada, bastaria para definir o posicionamento político do ex-presidente eleito pelo PSDB, sociólogo, cientista, professor universitário, tido como democrata, face a um presidente eleito que se assume como admirador da ditadura, racista, homofóbico, xenófobo, machista. Um presidente que se apresenta como «restaurador da ordem», com um discurso que apela aos princípios mais retrógrados da tenebrosa triologia Deus, Pátria e Família. Um presidente calorosamente saudado por Trump e Netanyahu e que logo anunciou a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
Mas FHC não se ficou por aqui. Assumindo que entre Fernando Haddad, o candidato do PT, e Bolsonaro o seu coração «não balança», que é uma forma de dizer que não vê diferença entre um democrata e um fascista, HFC foi mais longe ao dizer que o que mais teme é que Bolsonaro não seja capaz de retirar o Brasil da crise económica em que se encontra, já que não acredita que a democracia esteja ameaçada. É uma questão de fé… ou a esperança encapotada num novo «milagre económico» como o produzido nos «anos de chumbo» da ditadura, o tal que provocou uma concentração da riqueza geradora de profundas desigualdades sociais que se mantêm até hoje e que terminou no crash de 1971. A recessão económica que se seguiu, como FHC tem obrigação de saber, durou até à última década do século passado, e nem as maiores e escandalosas privatizações da história do Brasil levadas a cabo justamente pelos governos de Fernando Henrique Cardoso contiveram o aumento brutal da dívida pública.