Do meu barco ouço, um dia, alguém cantar.
A voz chega-me aos ouvidos, devagar,
com veias de leite e seios a arfar,
como pão quente, numa canção de embalar.
Na balsa cheia, com a luz sem luz, sem céu o céu,
com o mar agitado, em seu branco véu,
com uma criança ao colo, dormindo de corpo ao léu,
mãe negra canta, com gaivotas saindo debaixo de seu chapéu:
«Fugi na água fria do tempo
sem olhar para o que deixava;
Incendiou-me o pensamento
na fonte de uma ribeira brava».