Não há nem pode haver dinheiro para tudo, mas há sempre dinheiro para satisfazer os interesses de alguns e falta sempre dinheiro para satisfazer as necessidades e as justas reivindicações de muitos.
No início da passada semana, o Senhor Primeiro Ministro, a propósito do lançamento do concurso para a empreitada de reabilitação do primeiro de três troços da obra de requalificação integral do IP3, obra que se estima ir custar na sua totalidade aos cofres do Estado 134 milhões de euros, afirmou que «quando estamos a decidir fazer esta obra, estamos a decidir não fazer evoluções nas carreiras ou vencimentos».
Esta frase lamentável a todos os títulos, porque confunde despesas com pessoal na administração pública com investimento público, porque procura confrontar as justas reivindicações dos funcionários públicos com os anseios das populações da região, que ao longo das últimas décadas assistiram e sofreram com milhares de acidentes, muitos deles mortais, no IP3, é o exemplo mais acabado da falta de argumentos deste Governo perante a luta dos funcionários públicos e em particular dos professores na reposição dos seus direitos salariais, os quais estão congelados desde a década passada.
Mas a frase não é ingénua, porque, na verdade, os recursos do Estado não são ilimitados e são sempre as opções políticas dos Governos que ditam o destino desses recursos, levou-me a consumir algum tempo para mostrar como este Estado, nas mãos deste e outros Governos que o antecederam, tem deliberadamente esquecido a defesa dos interesses públicos em detrimento dos interesses dos grandes grupos económicos privados, nacionais e estrangeiros. E assim os recursos públicos, que não são ilimitados, são cada vez mais escassos e insuficientes para que o Estado cumpra com as suas responsabilidades perante os funcionários públicos e perante os cidadãos.