Nas últimas décadas ocorreram mudanças significativas na actividade física e desportiva em Portugal. Por um lado tivemos uma melhoria significativa no desempenho desportivo dos nossos atletas, fruto do aumento do número de praticantes em determinadas modalidades e de um salto significativo no trabalho da formação. No reverso da medalha assistimos a uma regressão no desempenho motor de parcelas da população, graças à diminuição da actividade física em contexto informal (uma marca dos dias de hoje) e à inexistência de prática desportiva formal como componente da sua educação e formação.

Olhando para a prática da actividade física e desportiva, de um ponto de vista de classe, encontramos esta como componente obrigatória da formação do indivíduo de classe média (camadas intermédias) e vemos, em certas franjas das classes populares, o seu desaparecimento como prioridade formativa e educativa.

A miséria humana, em todas as formas, tende a acumular-se mais nas camadas mais desfavorecidas – a pobreza, as epidemias, a iliteracia, a má alimentação e a falta de hábitos desportivos. Considerando a variável saúde e desporto, os pobres passaram da fome – não para a alimentação saudável com hábitos de prática regular da actividade física – para a alimentação hipercalórica e o sedentarismo. O escanzelado deu lugar ao obeso.

O que podem fazer os poderes públicos perante este problema, considerando que devem pautar a sua conduta pelo combate à reprodução social, única forma de garantir, de facto, a igualdade de oportunidades?

Tenho ideia que o objectivo só pode ser um – aumentar o número de horas semanais de actividade física e desportiva (das crianças, dos jovens e dos adultos) na escola, no desporto associativo e em contexto informal.

Na Escola isso passa pelo aumento do número de horas semanais da educação física e desportiva no ensino básico e secundário e pela expansão do desporto escolar. Em contexto informal pode ser feito através de campanhas de sensibilização, eventos de massas, dias especiais, etc..

Deixo para último o movimento associativo desportivo. As associações, por força do aumento da despesa – remunerações de monitores e treinadores, inscrições e seguros dos atletas, custos com as instalações desportivas e os transportes, exames médicos –, passaram parte desses custos para as famílias dos atletas. Esta opção acaba por introduzir um condicionamento económico no acesso de todos à prática regular da actividade física e desportiva, que as associações, por razões de interesse no rendimento desportivo do clube e/ou por razões altruístas de responsabilidade social,  vão, aqui e acolá, mitigando e possibilitando o acesso à prática desportiva de alguns sem os recursos económicos suficientes.

Ora, é aqui que os poderes públicos, principalmente as autarquias, podem e devem intervir: garantindo instalações e transportes, custeando despesas com monitores e treinadores e estimulando políticas de socialização do acesso à prática desportiva, por parte dos clubes e associações. E, claro, devem monitorizar o trabalho feito.

Quando um autarca, no final do seu mandato, for capaz de afirmar (e a realidade o confirmar): – graças ao apoio da autarquia, nisto e naquilo, há quatro anos o concelho tinha x atletas e x modalidades e hoje tem  x+y atletas e x+y modalidades na formação desportiva do movimento associativo concelhio; estamos no bom caminho. Não sendo assim, é só conversa!

in Discurso Directo” a 21 de Abril

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