O fenómeno acima identificado deu à costa com a apresentação do documento “O perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória”, o qual está, neste momento, em discussão pública. Neste documento, encomendado pelo governo do PS a um grupo de trabalho coordenado por Guilherme de Oliveira Martins, sente-se a ideologia OCDE e o dedo de pedagogos próximos da direita. Não é tanto o documento em si que importa, tão singelo é, mas as ideias que o enformam e o que dele foi dito.
Numa leitura simplista da história das ideias da educação, nos últimos cem anos degladiaram-se, à esquerda, na teoria e na prática, a pedagogia do austero revolucionário com a do alegre progressista, se quisermos, a do “soviético” com a do neo-marxista, com particular ascendente do último nas décadas mais recentes. À direita perpetuou-se, rijamente, a pedagogia do rústico mestre-escola, em versão lusa, o “ler, escrever e contar” e derivados. Aqui e acolá, nalguns círculos próximos, surgia alguma coisa de Pedagogia do Projecto, mas não era o dominante. Agora, porém, surgiu coisa nova, não de nicho mas de massas.