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Vêm de longínquas praias brancas

em busca de paz e alimento.

Partem em pequenas embarcações,

casas sem raíz, nem cimento,

de um lado água, do outro aflições,

pela frente um mundo novo que se tranca.

Ei-los famintos, empilhados e bolsos rotos,

procurando moedas de espuma,

carregando às costas a própria urna,

perdidos na Via Láctea deste universo monstro.

Serão refugiados serão ratos?

Serão vítimas serão assépticos migrantes?

Ninguém sabe, ninguém quer saber,

se aqueles pés vão inclinados nos passos,

se aquelas barrigas levam crianças ainda por ter,

se aquelas mãos procuram só um ombro mais adiante.

É, então, que o bispo da tropa

– quem diria,

neste país que mete um véu ao que é maldito

e censura quem arreia a giga –

que o bispo da tropa, dizíamos nós,

lá do fundo da Cova d’Íria

– precisamente do lugar onde menos se acreditaria,

tantas as crenças ao que é apenas pó,

alucinações, espíritos, segredos, até milagres sublimes,

tudo menos um deus em carne viva –

que o bispo da tropa, repetimos então nós,

abre as guelras contra a Europa

e, fazendo sua a mediterrânea voz,

denuncia o crime.

 

Arouca, 20 de Agosto de 2015

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