Outro dia, fui em busca de um pensamento da Virgem Maria, Mãe de Deus, sobre o nosso Presidente da República, o nosso Doutor Vaz Pinto, o nosso Cardeal Patriarca de Lisboa, o nosso Papa Francisco, e saiu-me um camarada defensor dos jogos florais da virtude revolucionária. Se não fosse isso nem me lembrava mais de uma frase do Torga, «o universal é o local menos as paredes».
Mas, graças a ele, finalmente encontrei o marxista não-praticante. Ponha-lhe aspas quem quiser. Por respeito ao marxismo, eu lhe denomino de marxistianista. Pois, o homem, agnóstico militante, mil e tanto, parece ter tomado bicarbonato de pecado. E é comigo, motivo da minha última crónica. Quem faz uma crónica acrescenta uma tónica, mas isso ele não aceita. Tónicas, só as da sua pura água.
Assim, o mundo católico, adianta ele, é um assunto gravíssimo – sacrossanto – não tolerando crónicas que não juntam, mas dividem. Eu, que já não posso voltar com a palavra atrás, pois milho que entra no pilão só sai quando já virou farinha, pergunto: só por ver alguém comer sandes, pode-se concluir que é um homem sandesfeito? Mas ele, mesmo sendo agnóstico, sentenciou – esperar pela Virgem Maria, numa tasca, é uma ofensa aos católicos. E o marxistianista, em fase de arrebanhar católicos para o «nosso lado da barricada», não autoriza brincadeira. Por fim, ele se pronunciou reticente, que «assim não, camaradas». O «assim» de um marxistianista é a certeza dirigente, de grandes e comuns formatos sociais, abrangendo grandes estratégias de acção política e partidária. E, aí, ele não admite ladrões de seus sossegos. A vida e a revolução já estão por ele contempladas. O povo, para ele, começa e acaba no empregado doméstico. O resto, são as massas. Os textos e os assuntos, só podem ser vagos, comuns e cacimbolentos. Nem ele sabe o concreto de um vivente, seu nome, sua história. Coitado do marxistianista, sem o aperto de mão que lhe aqueça. Pois bem, estando ele longe de Arouca, não lhe aperto a mão, mas ofereço-lhe uma pequena estorinha local.