Jornada evocativa – Centenário de Álvaro Cunhal
28 Quinta-feira Mar 2013
28 Quinta-feira Mar 2013
28 Quinta-feira Mar 2013
Washington foi rápido a utilizar a crise financeira cipriota para iniciar a estratégia de captação de capitais que eu descrevi três semanas atrás nestas colunas [1]. Com a ajuda da directora do Fundo monetário internacional, a pró-americana Christine Lagarde, eles puseram em causa a inviolabilidade da propriedade privada na União europeia e tentaram confiscar um décimo dos depósitos bancários, pretensamente para capitalizar a banca nacional cipriota afectada pela crise grega.
É escusado dizer que, a finalidade anunciada não é senão um pretexto já que longe de resolver o problema, este confisco se fosse realizado não faria mais que agravá-lo. Ameaçados, os restantes capitais fugiriam da ilha provocando o colapso da sua economia.
A única, real, solução seria anular as dívidas antecipando para isso as receitas da exploração do gás cipriota. Isto seria tanto mais lógico quanto este gás a baixo preço relançaria a economia da União europeia. Mas, Washington decidiu nisto de outra forma. Os Europeus são instados a continuar a procurar a sua energia a preço elevado no Próximo-Oriente, enquanto este gás a baixo preço fica reservado para alimentar a economia israelita.
Para mascarar o papel da decisão de Washington, este “hold-up”- (expressão em inglês para assalto, NdT) – bancário não é apresentado como uma exigência do FMI, mas como a de uma troika, incluindo a UE e o BCE. Nesta perspectiva, o confisco substituiria uma desvalorização ornada impossível pela pertença à zona euro. Salvo que, aqui, a desvalorização não seria uma política de Nicósia, mas um diktat do patrão do BCE, Mário Draghi, o ex-director europeu do banco Goldman Sachs, que é precisamente o principal credor de Chipre.
28 Quinta-feira Mar 2013
Posted Grécia, Internacional, James Petras, Política, Sociedade, UE
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crise, depressão económica, Desemprego, greves gerais, relações de família e inter-geracionais
Três gerações de trabalhadores gregos
Quando a Grécia entra no sexto ano da pior depressão económica da Europa, com 30% da sua força de trabalho desempregada e mais de 52% da sua juventude sem emprego, todo o tecido social está a dilacerar-se; a taxa de suicídios está a disparar e cerca de 80% da população caminha para o declínio. As relações de família e inter-geracionais sofrem impacto profundo; convicções anteriores evaporaram-se. Incertezas, medo e cólera inspiram protestos em massa diários. Mais de uma dúzia de greves gerais levaram os gregos, desde alunos da escola secundária até octogenários, a uma luta desesperada para conservar os últimos resquícios de dignidade e sobrevivência material.
A União Europeia e os colaboradores gregos pilharam o tesouro, cortaram empregos, salários e pensões, executaram hipotecas de habitações e elevaram impostos. Os orçamentos familiares contraíram para a metade ou um terço dos seus níveis anteriores.
Num crescente número de famílias, três gerações estão a viver sob um mesmo teto, mal sobrevivendo das pensões em redução dos seus avós: algumas famílias à beira da indigência. A prolongada – nunca acabada e a piorar – depressão capitalista provocou uma ruptura profunda no ciclo de vida e nas experiências de viver de avós, pais e filhos. Este ensaio será centrado nos avós, pais e filhos devido a maior familiaridade com as suas experiências de vida.
A rutura inter-geracional pode ser melhor compreendida no contexto das “experiências de vida” contrastantes de três gerações. O foco será sobre as experiências de trabalho, política, família e lazer.
Experiências de trabalho: Os avós
Os avós das famílias, na maior parte dos casos, migraram de áreas rurais ou pequenas cidades durante o período pós guerra civil (1946-49) e muitos estabeleceram-se nos subúrbios pobres de Atenas. A maior parte mal acabou a escola secundária e encontrou emprego mal pago no têxtil, construção e empresas públicas. Os sindicatos não existiam, “semiclandestinos” e sujeitos a dura repressão pelos regimes direitistas apoiados pelos EUA no princípio da década de 1960. Entre os meados e o fim da década de 1970 os avós gravitaram em direção a partidos de “centro-esquerda” e ao renascimento da atividade sindical. Isto ocorreu especialmente entre a crescente indústria de montagem e entre trabalhadores do sector público e nas indústrias elétricas, de telecomunicações, portos marítimos e de transportes. O golpe de 1967 apoiado pelos EUA e a resultante junta militar (1967-1973) teve um impacto duplo: Colocou fora da lei sindicatos e negociações coletivas, por um lado, e estimulou o investimento estrangeiro conduzido pelo clientelismo de estilo corporativo, por outro.
28 Quinta-feira Mar 2013
Sessão Cultural Evocativa do Centenário de Álvaro Cunhal, 23 Março de 2013, Lisboa