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A mutação do sistema de intervenção militar dos Estados Unidos
“As Ilusões desesperadas geram vida em tuas veias”
St. Vulestry
“As pessoas acreditam que as soluções decorrem da sua capacidade de estudar sensatamente a realidade perceptível. Na realidade, o mundo já não funciona assim. Agora somos um império e, quando actuamos, criamos nossa própria realidade. E enquanto tu estás a estudar essa realidade, actuaremos de novo, criando outras realidades que também podes estudar. Somos os actores da história, e a vós, todos vós, só lhes resta estudar o que fazemos”.
Karl Rove, assessor de George W. Bush, Verão de 2002
Guerra e economia
Conceitos tais como “keynesianismo militar” ou “economia da guerra permanente” constituem bons pontos de partida para entender o longo ciclo de prosperidade imperial dos Estados Unidos: seu arranque há pouco mais de sete décadas, seu auge e a entrada recente na sua etapa de esgotamento abrindo o processo militarista-decadente actualmente em curso.
Em 1942 Michal Kalecki expunha o esquema básico do que posteriormente ficou conhecido como “keynesianismo militar”. Apoiando-se na experiência da economia militarizada da Alemanha nazi, o autor assinalava as resistências das burguesias da Europa e dos Estados Unidos à aplicação de políticas estatais de pleno emprego baseadas em incentivos directos ao sector civil e sua predisposição a favorecê-las quando se orientavam para as actividades militares [2] . Mais adiante Kalecki, já em plena Guerra Fria, descrevia as características decisivas do que qualificava como triângulo hegemónico do capitalismo norte-americano que combinava a prosperidade interna com o militarismo descrito como convergência entre gastos militares, manipulação mediáticas da população e altos níveis de emprego [3] .
Esta linha de reflexão, à qual aderiram, dentre outros, Harry Magdoff, Paul Baran e Paul Sweezy, colocava tanto o êxito a curto-médio prazo da estratégia de “Manteiga + Canhões” (“Guns and Butter Economy”) que fortalecia em simultâneo a coesão social interna dos Estados Unidos e sua presença militar global, como os seus limites e inevitável esgotamento a longo prazo.
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