A sociedade desejada pela oligarquia baseia-se no apagamento da consciência social, com a expansão do “lúmpen proletariado” e do elitismo. A destruição do Estado Social tem este objectivo, evidente na saúde, na educação, na cultura, só disponíveis para quem as poder pagar.
Era este também o objectivo do fascismo: a existência de uma elite necessária à gestão dos interesses instalados, face a uma massa empobrecida que se procura controlar pela caridade, perdendo a noção de direitos sociais e em que o lixo televisivo funciona como entorpecente.
1 – POPULISMO E CONTRADIÇÕES
Governança é um termo da UE significando a forma de governar baseada no equilíbrio entre o Estado, sociedade civil e o mercado ao nível nacional e internacional. Trata-se de outra manipulação de conceitos que pretende justificar a rendição aos interesses oligárquicos e sobrepor cúpulas tecno-burocráticas aos processos democráticos. Com isto a UE transformou-se num espaço aceleradamente decadente, mergulhado em contradições insanáveis e conflitos sociais.
O populismo (1) é uma das mais perigosas formas utilizadas para iludir os povos. Nunca é demais denunciar a perversidade da sua ação que tanto fornece alibis ao oportunismo como se insinua nas camadas populares visando a sua alienação.
Indo ao essencial, diríamos que o populismo consiste em escamotear as contradições principais e antagónicas do sistema capitalista, sobrepondo-lhes contradições secundárias e não antagónicas, generalizando e empolando o que apenas tem efeitos residuais.
Opõem-se trabalhadores com emprego e contratação coletiva a desempregados e precários; pensionistas atuais aos futuros; grevistas que em última análise defendem os direitos de todos, aos utentes dos serviços. A situação de uns seria a causa das dificuldades dos outros. Colocam-se os que auferem 300 ou 400 euros mensais, contra os que recebem – a partir do que descontaram antes – 1 500 ou 2 000 euros (ilíquidos) e que o governo estipulou como ricos, mas escondem-se os perdões fiscais aos multimilionários rendimentos dos oligarcas e seus serventuários.
O populismo procura colocar pobres e desempregados contra outros pobres e outros desempregados. O seu objetivo é a divisão dos trabalhadores, assumido que a exploração é feita pelo colega que “trabalha menos, mas ganha o mesmo”, que desemprego é causado pelos direitos laborais, pelos “altos custos salariais” e pelos emigrantes. Enquanto isto, a oligarquia dominante absorve em seu benefício cada vez maiores fatias da riqueza nacional, perante o silêncio cúmplice da propaganda populista.
O populista assume-se como um moralista social: pode criticar o governo, clamar contra a corrupção, lamentar a austeridade e os sacrifícios “dos portugueses”, falar em “equidade” e “justiça social”. Mas esta crítica é a máscara que não põe em causa o sistema, deixa intocadas a estrutura monopolista e a finança especuladora.
O populista lamenta o trabalhador a quem o Estado confisca metade do salário para gastar com “desempregados e toxicodependentes que não querem trabalhar”. Assumem o papel de “indignados” contra gastos do Estado, que “todos temos de pagar”, mas a sua “solução final” é sempre: menos democracia, mais poder e menos impostos para as oligarquias.
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