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Sete executivos da administração da EDP receberam, em 2011, o equivalente a 12.560 salários mínimos. No mesmo ano em que, apesar da crise, esta empresa conseguiu os maiores lucros de sempre. Quando tantos sacrifícios se pedem à maioria dos portugueses, há uns tantos nababos que, como a jiboia, só dormem quando fartos. E que ainda têm o desplante de pregar lições de moral. Isto já não é só um escândalo, é o descalabro. Que, como a traça, mina aquilo que ainda resta da nossa jovem mas já tão esclerosada democracia.

A EDP, embora preste o serviço público de distribuição de energia, desenvolve um negócio privado. Que deveria ser por sua conta e risco. Mas não! O negócio da EDP é alimentado pelas rendas que o Estado, isto é, os contribuintes, pagam. Só este ano, em “compensações”, o Estado transferirá para a EDP 1700 milhões de euros.

É caso para dizer que estamos perante um capitalismo às avessas. O Estado assume o risco e os privados, para além dos lucros, auferem de rendimentos garantidos, ao abrigo de qualquer percalço.

É o exemplo acabado da parasitagem da nossa elite empresarial e da finança, que prospera à custa de negociatas com o Estado.

Enquanto isso, os gestores da GALP agraciaram-se com qualquer coisa como 6,4 milhões de euros. A maior fatia coube a Américo Amorim, não seja ele, como se intitula, o primeiro dos trabalhadores. Outros, mais comedidos, como um tal Vitor Bento, que é simultaneamente conselheiro de estado e comentador político ao serviço do governo, arrecadou somente umas centenas de milhar. Nesta qualidade não se coíbe, sempre que se lhe oferece uma oportunidade de, sapientemente, receitar austeridade aos indígenas. Com tantas alvíssaras, bem podia aconselhar gratuitamente, no conselho e fora dele.

Estas e outras mordomias ajudam a explicar porque sobem, todas as semanas, os combustíveis.

Entre outros sectores, a privatização da EDP e da GALP foi, consciente ou inconscientemente, sufragada pela maioria dos portugueses. Os mesmos que agora se queixam da degradação de serviços e da exorbitância da factura. Como sufragaram também a privatização da água que está na calha. Da qual se lamentarão de seguida.

Na ânsia de demonstrar que não está parado, o ministro da motinha não pára. Na senda dos anteriores governos socialistas, cujo lema o presente segue à risca: “fraco com os fortes, forte com os fracos” e surpreendido por ver tanta miséria demasiado abonada e tão laboriosamente desleixada, decretou novas regras de atribuição do Rendimento Social de Inserção, vulgarmente conhecido por Rendimento Mínimo. Basta ter conta bancária e um quelhambeque para ser deserdado de umas quantas migalhas sacudidas, filantropicamente, da mesa sempre farta do orçamento para outras prebendas e mordomias que não esta.

É uma medida popularucha, como se quer, e que colhe no entendimento atávico do portuga, bem retratado em trocadilhos de barbearia e de bancos de café.

Não está minimamente garantida a sustentabilidade do Sistema Nacional de Saúde”. Quem o afirma, sem rebuço, é o ministro da saúde ou um “cobrador de impostos”, na expressão do coordenador do Bloco de Esquerda. Este governo, suportado pelo PSD com a muleta do CDS, mostra claramente ao que anda. Comportando-se como uma agência de interesses privados e, sabendo de antemão, que a saúde é um negócio de milhões, há que leiloar, com urgência e ao desbarato, para satisfazer uma corja de abutres. Ou não venha de uma alta representante de um poderoso grupo empresarial e financeiro deste país, com interesses na área, a frase lapidar: “Melhor que o negócio da saúde, só mesmo o das armas”.

Nada está pois garantido. Nem na saúde, nem na educação, nem na segurança social, nem nos direitos mais elementares das pessoas… Mas há sempre excepções exemplares. A garantia de que continuará a agiotagem das Parcerias Público-Privadas e a exploração de quem trabalha.

O Programa de Modernização das Escolas destinado ao ensino secundário, enquadrado nos objectivos do Quadro de Referência Estratégico Nacional e desenvolvido pela Parque Escolar, tem dado muito que falar.

Para uns uma “festa” e um “hino à arquitectura”, para outros um desbaratar, sem regra nem controlo, de dinheiros públicos.

Neste, como em qualquer outro investimento público, cuja utilidade social deve ser sempre bem pesada, deve haver o máximo rigor. Mas é bem verdade que, apesar do empolamento mediático que tem sido dado ao caso, o montante orçamentado não esgota o equivalente ao dos submarinos negociados pelo inefável ministro Paulo Portas, já Portugal estava “de tanga”, e dos quais já ninguém se lembra. Embrulhada à conta da qual foram parar aos cofres do CDS gordas centenas de milhar de euros, graciosamente oferecidas pelo misterioso benemérito Jacinto Leite Capelo Rêgo. E que, actualmente, lá para as bandas do Alfeite, mais não servem que de bancos de coral a uma infindável e muito colorida fauna marinha e para adivinhar, junto à costa, o paradeiro dos cardumes de sardinha.

Uma coisa é certa. Com este programa criaram-se, mesmo que temporários,  directa e indirectamente, milhares de postos de trabalho. Com os submarinos não se criou um único!

Não é com este país, mas com o vizinho. O rei Juan Carlos fracturou uma anca, durante uma caçada aos elefantes, no Botswana, pelo que lhe terá que ser colocada, com urgência, uma real prótese. Um voto de rápidas melhoras, para poder voltar a esta e idênticas azáfamas quotidianas, sem as quais muito debilitado ficaria o reino. Mas o que mais lamento é que a mesma e o regabofe da caçada de que gozou sua alteza e respectiva corte, lá como cá e como sempre, sejam custeadas pelos novos  misquinhos das antigas Ordenações.

Estas eminências que, regra geral, rebrilham nas histórias pátrias com luzentes cognomes com que ofuscam a pasmaceira dos súbditos, sempre muito adestradas nas artes de altanaria e exímios tangedores de harpa, não passam, o mais das vezes, de refinadíssimas nulidades.

Passados sete anos a coser, à mão, resmas de testemunhos e alegações, terminou em águas de bacalhau o caso Portucale! Outra coisa não era de esperar.

 

 

AOB

Sem as regras do Acordo

Arouca, 27 de Abril de 2012